Um norte-americano dedicou mais de 20 anos a um experimento incomum: injetar pequenas doses de veneno de cobra em seu próprio corpo para desenvolver resistência às toxinas. Sua abordagem extrema, que incluiu centenas de injeções e picadas intencionais, resultou na produção de anticorpos poderosos, agora estudados como base para um novo antídoto. Pesquisadores identificaram duas moléculas promissoras em seu sangue, capazes de neutralizar neurotoxinas de várias espécies de cobras, incluindo algumas das mais perigosas.
Os anticorpos, combinados a um medicamento existente, protegeram completamente camundongos em testes laboratoriais, mostrando potencial para um tratamento mais seguro e eficaz. Diferente dos soros tradicionais, derivados de cavalos, essa abordagem utiliza anticorpos humanos, reduzindo riscos de efeitos colaterais. No entanto, o antídoto ainda é limitado a venenos neurotóxicos e não abrange toxinas de víboras, como cascavéis e jararacas, que afetam o sistema circulatório.
A pesquisa, publicada na revista *Cell*, representa um avanço significativo no combate às picadas de cobra, que matam cerca de 138 mil pessoas por ano, principalmente em regiões remotas. Os cientistas agora buscam ampliar o alcance do tratamento e superar desafios de produção em larga escala. O experimento, embora arriscado, abriu um novo caminho para a ciência médica, oferecendo esperança para um antídoto acessível e de ampla aplicação.