O cineasta Marcelo Caetano dedica cerca de 15 anos à exploração do centro de São Paulo como cenário de seus filmes. Após a realização de quatro curtas-metragens, uma série de TV e o longa “Corpo Elétrico”, Caetano estreia seu novo trabalho, “Baby”, que se destaca pela abordagem das questões familiares e sociais de maneira mais completa e madura. O filme acompanha a jornada de Baby, um jovem saído de um centro de detenção, que se envolve com Ronaldo, um garoto de programa, em uma relação marcada por conflitos e afeto. O diretor busca questionar a ideia de família, propondo uma visão mais plural e inclusiva, que abarca relações homoafetivas, escolhidas e de sobrevivência, em oposição à tradicional concepção biológica.
A produção de “Baby” se diferencia pela forma orgânica como as locações foram escolhidas. Caetano e sua equipe percorreram as ruas do centro paulistano, conhecendo suas comunidades e dinâmicas sociais, como o ballroom, a comunidade LGBT+ e os imigrantes. A convivência com os espaços e as pessoas foi fundamental para a construção do filme, que também se caracteriza pela filmagem em fluxo, sem interromper o cotidiano da cidade. As filmagens ocorreram no contexto real da cidade, retratando seu movimento e vitalidade, sem esconder as transformações que a região atravessa constantemente.
O cenário de São Paulo e seus elementos urbanos já sofrem mudanças, com a demolição de locações icônicas do filme, como uma pensão e um cinema pornográfico, o que revela a natureza efêmera e mutável do centro. Marcelo Caetano, que sempre teve uma relação íntima com o espaço urbano, reflete sobre a constante transformação da cidade e como ela reflete nas histórias que conta. “Baby” foi selecionado para a Semana da Crítica de Cannes, evidenciando o reconhecimento da crítica internacional e a relevância de sua abordagem cinematográfica.