A tensão crescente entre os Estados Unidos e a Venezuela pode resultar em consequências significativas para toda a América Latina, especialmente no que diz respeito à estabilidade regional e à crise de refugiados. A análise é da professora de Relações Internacionais do Instituto Mauá, Flávia de Araújo, que destaca a imprevisibilidade das ações do presidente dos EUA, Donald Trump, como um fator de preocupação. De acordo com a especialista, o interesse dos Estados Unidos na Venezuela está fundamentado principalmente em dois aspectos: o acesso aos recursos naturais, especialmente o petróleo, e o combate ao narcotráfico – justificativa oficial apresentada por Trump para a movimentação militar próxima ao território venezuelano.
A situação política na Venezuela apresenta riscos significativos de agravamento dos conflitos internos. O país conta atualmente com mais de 2 mil presos políticos, e as instituições venezuelanas, incluindo as Forças Armadas e milícias armadas, mantêm-se alinhadas ao governo. Araújo ressalta que a questão vai além do embate ideológico entre esquerda e direita, como frequentemente é interpretado no Brasil. “Em nenhum momento Donald Trump disse que o problema era o regime venezuelano ou que ele reinstauraria a democracia. Os interesses americanos nesse país são outros”, afirma Araújo.
O cenário atual gera preocupações quanto a um possível aumento no fluxo de refugiados venezuelanos para países vizinhos, incluindo o Brasil, que já recebeu um número significativo de pessoas que fugiram do país em crises anteriores. A possibilidade de um conflito civil também não está descartada, considerando a existência de grupos tanto apoiadores quanto opositores ao regime atual. A análise da professora destaca a necessidade de atenção internacional para evitar uma crise humanitária ainda maior na região.