Entre os séculos 12 e 17, a medicina europeia recorreu a um remédio inusitado: a múmia, um pó derivado de corpos mumificados egípcios ou substâncias confundidas com elas. Este costume, que misturava ciência e superstição, surgiu de traduções equivocadas do árabe e da crescente demanda por medicamentos exóticos na Europa renascentista. O termo ‘mumia’ referia-se originalmente a um tipo de betume medicinal, mas acabou englobando restos embalsamados, levando a um comércio lucrativo que incentivou pilhagens de tumbas e fraudes.
A prática de usar múmias como remédio se espalhou por boticas e cortes reais, com médicos da época afirmando que o produto tinha propriedades curativas para diversas condições. No entanto, com o advento do método empírico e investigações anatômicas mais rigorosas no século 16, começou a surgir ceticismo sobre a eficácia da múmia. A distinção entre o betume natural e os restos humanos pulverizados se tornou clara, levando a uma crítica crescente sobre o uso contínuo de matéria humana como panaceia.
Embora o comércio de múmia tenha persistido por algum tempo, impulsionado por práticas culturais e interesses comerciais, o rigor científico e as novas terapias gradualmente corroeram sua legitimidade. Registros históricos mostram que, apesar de algumas práticas fraudulentas continuarem, a prescrição de pó de múmia deixou de ser aceita na medicina. Este fenômeno serve como um alerta sobre como equívocos de tradução e o desejo por remédios milagrosos podem levar a práticas médicas eticamente problemáticas.