Inicialmente, os seguidores de Jesus não adotaram a cruz como símbolo religioso, associando-a a um instrumento de tortura e humilhação. Em vez disso, identificavam-se por meio do peixe (ichthys), que representava não apenas a conexão com os ensinamentos de Jesus, mas também um acrônimo para “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”. As primeiras comunidades cristãs evitavam representações da crucificação, preferindo imagens do messias vivo ou ressuscitado, devido ao estigma da execução romana e à repulsa judaica pela prática.
O imperador Constantino teve um papel crucial na transformação da cruz em símbolo cristão, após uma visão que associou sua vitória militar ao sinal da cruz. Ele incentivou seu uso e proibiu a crucificação como pena de morte, facilitando a ressignificação do símbolo. Ainda assim, a adoção foi gradual: as primeiras representações eram ornamentais e sem elementos violentos, e só séculos depois, principalmente na Idade Média, as imagens de Cristo crucificado se tornaram mais realistas e sangrentas, refletindo o contexto de conflitos e crises da época.
Hoje, a cruz é o símbolo central do cristianismo, mas sua trajetória revela como significados religiosos podem ser reinterpretados ao longo do tempo. Desde sua rejeição inicial até a veneração atual, a cruz passou por um processo complexo, influenciado por fatores políticos, culturais e teológicos. A busca pela cruz original por Santa Helena e sua incorporação na liturgia católica consolidaram seu lugar na fé cristã, tornando-a um ícone universalmente reconhecido.