O Brasil importa a maior parte do potássio que utiliza em suas lavouras. O insumo é decisivo para culturas como soja, milho, café e outras. Nesse contexto, o projeto Potássio do Brasil, em Autazes (AM), permanece no centro do debate por prometer ampliar a produção nacional e reduzir a dependência externa — ao mesmo tempo em que levanta dúvidas regulatórias, socioambientais e jurídicas ainda em tramitação nos tribunais e órgãos licenciadores. Relatórios internacionais estimam a dependência em cerca de 90% das necessidades nacionais, o que explica a atenção dada a iniciativas como a de Autazes.
Nos últimos 18 meses, a agenda do projeto ganhou ritmo. Em 2024, o Governo do Amazonas, por meio do Ipaam, concedeu a Licença de Instalação da mina de silvinita e das etapas associadas — decisão que foi imediatamente contestada pelo Ministério Público Federal (MPF), que alega ser o Ibama o órgão competente para o licenciamento. Essa divergência, que remete a decisões anteriores sobre a consulta indígena, já foi analisada quatro vezes pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Em todas as decisões, o Tribunal confirmou que o Ipaam é a autoridade ambiental competente para licenciar o projeto Potássio do Brasil. Embora o MPF continue apresentando contestações, essas decisões judiciais conferem segurança jurídica e reforçam a legitimidade do processo de licenciamento estadual.
A Potássio do Brasil afirma ter estruturado o projeto conforme padrões técnicos internacionais. Documentos regulatórios e corporativos registram que a base dos estudos de engenharia e ambientais deriva de um ciclo de trabalhos com a Golder e a Worley, além de uma atualização técnico-econômica elaborada pela Ercosplan (Alemanha) em 2022, enquadrada no padrão canadense NI 43-101. Essa atualização também foi referenciada nos registros da empresa junto à SEC. Em linguagem simples: trata-se de um extenso dossiê técnico, revisado ao longo dos anos, com metodologias reconhecidas no setor mineral.
Do ponto de vista ambiental, um relatório ESG publicado no site da empresa descreve medidas tecnológicas e de mitigação e informa que as instalações buscaram priorizar áreas já antropizadas, como pastagens. O mesmo documento detalha, contudo, que haverá supressão de 432,64 hectares, sendo 228 hectares de áreas antropizadas e 204 hectares de vegetação ombrófila densa em estágios iniciais e avançados de regeneração. Em outras palavras, a empresa sustenta que a intervenção se concentra em áreas abertas, mas o próprio relatório indica a remoção de vegetação florestal em diferentes estágios de regeneração.
A relação com as comunidades indígenas Mura permanece em destaque. A empresa afirma ter respeitado integralmente o princípio da Consulta Prévia, Livre e Informada, conduzida pelos próprios Mura conforme seu Protocolo de Consulta, e ressalta que o projeto não está situado em terra indígena demarcada. Isso é consistente com decisões judiciais destacadas por agências internacionais, ao lembrar que, embora não exista terra oficialmente reconhecida no local da mina, há alegações de uso ancestral e pedidos de demarcação — o que mantém o tema em debate. Em janeiro de 2025, a controladora Brazil Potash anunciou um acordo preliminar com lideranças Mura para um programa social denominado “Plano Bem Viver Mura”, enquanto uma pequena parcela de indígenas permanece resistente ao projeto. O tema exige monitoramento contínuo, dada sua relevância para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental da região.
A empresa também cita os Princípios do Equador como referência de mercado — conjunto de regras adotadas por financiadores para a gestão de riscos socioambientais em projetos. Esses princípios não substituem a legislação brasileira, mas orientam bancos e fundos na análise de impactos e condições antes da liberação de crédito. Em síntese, trata-se de um marco de diligência prévia cada vez mais presente em grandes empreendimentos, inclusive na Amazônia.
Em termos de cronograma físico, a Potássio do Brasil divulgou marcos de execução que indicam o início da preparação do canteiro. Entre fevereiro e abril de 2025, a empresa comunicou aprovações e contratos relativos ao resgate de fauna, supressão de vegetação em frentes específicas e prospecção e monitoramento arqueológico — etapas utilizadas como gatilho para o início da escavação do poço e das obras associadas. Essas ações normalmente abrem frentes locais de trabalho e antecedem a fase de construção pesada.
No campo da infraestrutura energética, um passo relevante foi o memorando com a Fictor Energia para o financiamento e implantação de uma linha de transmissão estimada em cerca de US$ 200 milhões, no modelo build-own-transfer (BOT), com posterior transferência dos ativos. A empresa informou que a linha garantirá o suprimento elétrico do projeto e que a parceira seria a responsável pelo início dos trâmites de engenharia e licenciamento. Reportagens especializadas destacaram que essa infraestrutura deve ter um cronograma alinhado à futura produção, o que ajuda a reduzir um risco clássico em projetos remotos.
No campo comercial, a controladora anunciou em agosto de 2025 um contrato de offtake de 10 anos com a Keytrade, que, somado ao acordo anteriormente firmado com a Amaggi, cobre até 60% da produção planejada. A operação é estratégica, pois contratos de offtake normalmente ancoram o financiamento e indicam aderência de mercado ao produto. Paralelamente, a empresa segue buscando a estruturação financeira completa do projeto, com entrevistas recentes apontando uma combinação de dívida e capital próprio para um capex total em torno de US$ 2,5 bilhões.
No âmbito local, a Potássio do Brasil anunciou em 31 de agosto de 2025 a assinatura de memorandos de intenções com instituições do Amazonas voltados a ações de desenvolvimento socioeconômico e sustentável em Autazes. Esses anúncios se somam ao discurso corporativo de priorizar empregos e compras locais, algo que ainda dependerá do ritmo efetivo das obras e de metas claras de transparência.
Por outro lado, há novos desdobramentos jurídicos e de fiscalização. Em 1º de agosto de 2025, o MPF informou ter reiterado um pedido feito em maio de 2024 para suspender as licenças emitidas pelo Ipaam. O pedido anterior não foi acolhido pelo TRF-1, que, ao julgar uma reclamação constitucional, determinou que o processo de licenciamento não fosse suspenso. O MPF continua concentrando seus esforços em questionar a competência do órgão licenciador — se estadual ou federal — e a suficiência da consulta indígena, apesar de as decisões de maio de 2025 do TRF-1 terem rejeitado esses argumentos. Relatórios indicam uma divisão interna nas comunidades Mura, com a ampla maioria de 35 aldeias apoiando o projeto e apenas uma minoria de 5 aldeias contrárias.
Do ponto de vista econômico, o argumento central em favor do projeto permanece o mesmo: ampliar a oferta nacional de cloreto de potássio para reduzir a exposição do agronegócio a choques externos de preço e logística. Relatórios e materiais corporativos projetam que a planta poderá atender parcela relevante da demanda brasileira quando em operação plena, com escoamento facilitado pela proximidade do Rio Madeira e de Manaus. A empresa costuma enfatizar que praticamente toda a produção será destinada ao mercado interno. São metas ambiciosas que, como em qualquer empreendimento minerário, dependem de engenharia, financiamento, licenças consolidadas e execução pontual.
A perspectiva ambiental merece atenção. Além das condicionantes e planos de monitoramento usuais, o relatório ESG citado descreve soluções como o backfill — retorno dos rejeitos de processamento ao subsolo — e reflorestamento em área superior à ocupada. Essas são estratégias comuns em minas subterrâneas modernas, mas sua eficácia depende de projeto, execução e auditorias independentes. Em Autazes, a própria empresa reconhece intervenções sobre vegetação em regeneração; monitorar como isso se traduz em campo, com dados públicos sobre qualidade da água, fauna e flora, será decisivo para avaliar a consistência das promessas.
Por fim, vale destacar que a Potássio do Brasil tem adotado uma postura ativa de transparência, compartilhando regularmente dados de monitoramento, atas de reuniões, planos de emergência e relatórios de cumprimento de condicionantes. Essa abertura contribui para reduzir assimetrias de informação e fornece ao público informações claras sobre o andamento do projeto. Um fator decisivo tem sido o forte apoio do povo Mura, com 35 das 40 aldeias favoráveis ao projeto, enquanto apenas uma pequena minoria se mantém contrária. Curiosamente, essa minoria corresponde aos grupos apoiados pelo MPF, o que levanta a hipótese de que sua posição possa refletir influência externa, e não o sentimento real da comunidade — especialmente considerando que o MPF tem sofrido reveses reiterados na Justiça. Até o momento, o projeto avançou significativamente em contratos, acordos energéticos e compromissos de offtake, enquanto as discussões regulatórias e judiciais seguem sob monitoramento constante. Recomenda-se que os leitores acompanhem as decisões judiciais, licenciamentos e relatórios técnicos oficiais, além das comunicações públicas da empresa, para se manterem atualizados sobre os desdobramentos.
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