A inadimplência voltou a ser um fator central no debate sobre a política monetária brasileira. Dados recentes indicam que o comprometimento da renda das famílias alcançou 27,94% em julho de 2025, aproximando-se do recorde histórico, enquanto a inadimplência entre micro, pequenas e médias empresas subiu de 2% em 2020 para 5,5%. Segundo o economista André Perfeito, grande parte das dívidas contraídas não se destina à aquisição de bens duráveis, mas sim a despesas correntes, o que representa um alerta para a saúde financeira das famílias.
Perfeito ressalta ainda que, apesar da inadimplência crescente, a massa salarial está em níveis recordes, criando um cenário complexo para o Comitê de Política Monetária (Copom). De um lado, o aumento do endividamento sugere espaço para cortes na taxa Selic; de outro, a alta renda mantém a demanda aquecida e sustenta riscos inflacionários. O economista compara a situação a um “empate técnico infernal”, em que o Banco Central precisa agir com cautela para não desestabilizar a economia.
Diante desse contexto, a decisão do Copom exigirá equilíbrio para dosar os juros sem comprometer o controle da inflação. As expectativas inflacionárias ainda não estão firmemente ancoradas, e o canal de crédito indica que a economia brasileira está próxima do limite. Assim, o Banco Central pode optar por manter juros acima do nível neutro enquanto monitora os efeitos do endividamento crescente sobre o consumo e a atividade econômica.