As defesas dos generais Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, no julgamento do golpe no Supremo Tribunal Federal (STF), revelam uma clara tentativa de afastamento dos réus da figura do ex-presidente Jair Bolsonaro. A análise foi realizada pelo advogado e professor de Direito Processual Penal da PUC-PR, Gabriel Bertin de Almeida, em entrevista ao programa Ponto de Vista, da VEJA. Segundo Almeida, as falas dos advogados indicam que as defesas já não acreditam em uma absolvição ampla e buscam construir narrativas individuais para evitar que seus clientes sejam condenados da mesma forma que Bolsonaro.
No caso de Paulo Sérgio Nogueira, a defesa argumentou que o ex-ministro tentou dissuadir Bolsonaro de adotar medidas antidemocráticas após as eleições de 2022, apresentando-o como alguém que resistiu a possíveis investidas contra o resultado das urnas. Já a defesa de Augusto Heleno sustentou que o general estaria afastado de Bolsonaro nos últimos meses do governo, atribuindo a aproximação do ex-presidente com o Centrão como um fator para esse distanciamento. Essa estratégia visa reforçar a tese de que Heleno não participou diretamente dos episódios investigados pelo STF.
Para Almeida, o movimento das defesas é claro: descolar a imagem de seus clientes da do ex-presidente para tentar garantir decisões mais brandas no julgamento. “É uma última tentativa de obter um resultado absolutório, mesmo que parcial, diante de um cenário que se desenha como desfavorável”, concluiu. A situação evidencia a complexidade do julgamento e as implicações políticas que podem surgir a partir dele.