As novelas da TV Globo têm cumprido um papel pedagógico ao abordar temas delicados, como a saúde mental, refletindo as dores de personagens femininas com transtornos. Exemplos incluem o alcoolismo de Heleninha Roitman em ‘Vale Tudo’, a bipolaridade de Filipa em ‘Dona de Mim’ e o transtorno de ansiedade de Estela em ‘Êta Mundo Melhor’. Contudo, a representação exclusiva de mulheres em situações de vulnerabilidade levanta questionamentos sobre a seriedade da discussão e a percepção social dos transtornos mentais.
A psiquiatra Daniela Macaya, da Universidade de São Paulo, destaca que historicamente as mulheres são mais frequentemente associadas à “loucura”, o que pode descredibilizar a gravidade do tema. Embora no passado homens também tenham sido retratados com transtornos, como Tarso em ‘Caminho das Índias’, atualmente essa ausência pode prejudicar a compreensão dos conflitos enfrentados por todos os gêneros. As tramas mostram as dificuldades das personagens, mas a falta de figuras masculinas pode limitar a identificação do público masculino com essas questões.
Macaya ressalta a importância de diversificar as representações para que homens também se sintam incluídos nas discussões sobre saúde mental. A crescente igualdade entre os gêneros em relação ao alcoolismo, por exemplo, reforça a necessidade de uma abordagem equilibrada nas novelas. Assim, é essencial expandir o conteúdo para que todos possam se enxergar nas narrativas, evitando que a saúde mental seja vista apenas como um problema feminino.