Durante a 23ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a escritora Conceição Evaristo destacou a importância da literatura na construção da memória dos africanos e seus descendentes no Brasil. A autora participou de uma mesa mediada por Lilia Guerra na Casa da República, onde enfatizou que a ficção é essencial para preencher lacunas deixadas pela história. Evaristo citou a obra 'Um defeito de cor', de Ana Maria Gonçalves, como um exemplo notável dessa necessidade de criação literária.
Evaristo abordou a relação entre memória e resistência, afirmando que a história dos povos escravizados e subalternizados é fundamental para a identidade da população negra. "Essa ardência que nós trazemos nos coloca no campo da luta e nos coloca também no campo da crença e da esperança", declarou, ressaltando a importância de transmitir essa mensagem às novas gerações.
Ana Maria Gonçalves, também presente na Flip, falou sobre a reconstrução da história negra do Brasil por meio da ficção e da pesquisa. A autora, que recentemente se tornou imortal da Academia Brasileira de Letras, destacou a relevância de documentos históricos que ajudam a reescrever a narrativa. "A história da Kehinde é composta da história de pelo menos umas outras 300 mulheres", afirmou, referindo-se à protagonista de seu romance, que é inspirada em Luiza Mahin, mãe de Luiz Gama.
A participação de Evaristo e Gonçalves na Flip 2023 reforça o papel da literatura como ferramenta de resistência e conscientização, promovendo um diálogo sobre a memória e a identidade da população negra no Brasil.