A inauguração da fábrica da montadora chinesa BYD em Camaçari, na Bahia, no antigo complexo da Ford, deu início a uma intensa disputa fiscal no setor automotivo brasileiro. A empresa, que começou a operar em julho, monta carros elétricos a partir de kits importados da China, gerando críticas de montadoras tradicionais como Volkswagen, General Motors, Toyota e Stellantis, que acusam a BYD de concorrência desleal.
O cerne da controvérsia envolve o modelo SKD (Semi Knocked Down), no qual os veículos são importados com a carroceria já pintada e parcialmente montada, sendo apenas finalizados no Brasil. As montadoras alertam que essa prática pode comprometer o emprego e a industrialização nacional, levando o impasse até o Palácio do Planalto. Recentemente, os presidentes das maiores montadoras enviaram uma carta ao presidente Lula solicitando igualdade de condições e o fim de privilégios para a importação de veículos desmontados.
Em resposta, a BYD negou qualquer pedido por tratamento privilegiado e afirmou que sua proposta de redução temporária de impostos é justa. A empresa comparou seus concorrentes a “dinossauros” diante de um “meteoro no céu”, insinuando que a resistência à sua entrada no mercado é mais sobre a perda de protagonismo do que preocupações legítimas com a indústria nacional.
A Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu permitir que a BYD importe veículos em formato SKD sem pagar impostos por até seis meses, respeitando um teto de US$ 463 milhões. Após esse período, as tarifas serão retomadas de forma escalonada, alcançando 35% em janeiro de 2027. A decisão foi considerada o “máximo aceitável” pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), mas a BYD optou por não se pronunciar publicamente após a resolução.