A proposta de fusão entre Marfrig e BRF, que juntas somam uma receita estimada em R$ 152 bilhões por ano, está na fase final de análise pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Se aprovada, a operação resultará na criação da MBRF Global Foods, consolidando ainda mais a concentração econômica no setor de carnes no Brasil. A maioria dos conselheiros já votou a favor da fusão, embora o julgamento possa ser retomado em até 60 dias devido ao pedido de vista do conselheiro Carlos Jaques.
A fusão é vista como um avanço natural pela Marfrig, que já controla a BRF desde 2023. No entanto, especialistas alertam que essa concentração pode afetar a produção nacional de alimentos e a soberania alimentar do país. A advogada Lea Vidigal destaca que o Brasil precisa manter sua capacidade de abastecimento interno e preços acessíveis, especialmente em um cenário onde as grandes empresas influenciam as regulamentações que deveriam controlá-las.
Com a criação da MBRF, que terá 130 mil trabalhadores e presença em 117 países, o setor de carnes no Brasil se tornará ainda mais oligopolizado. A trajetória das gigantes da carne foi impulsionada por incentivos públicos, enquanto políticas de apoio à agricultura familiar recebem recursos modestos. A concentração do mercado pode limitar a autonomia dos produtores e o acesso da população a alimentos, exigindo uma reavaliação das políticas de concorrência e apoio ao setor produtivo local.