Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual do Colorado descobriram, pela primeira vez, a localização e a magnitude de grandes dormitórios de andorinhas na Amazônia, analisando dados de radar meteorológico do Serviço de Proteção da Amazônia (Sipam) em Manaus. O estudo, publicado na revista Ecology and Evolution, revelou que os radares, tradicionalmente usados para previsões climáticas, também podem monitorar movimentos impressionantes de aves migratórias em tempo real. Durante as manhãs, até 422 mil andorinhas foram observadas saindo em espiral desses dormitórios, um padrão conhecido como “donut”, que representa a dispersão simultânea das aves.
Os pesquisadores identificaram três dormitórios permanentes e cinco transitórios localizados em áreas protegidas próximas aos rios Negro e Amazonas, a menos de 50 km de Manaus. A análise dos dados de radar foi complementada com registros de observadores em plataformas como WikiAves e eBird, permitindo uma compreensão detalhada das espécies presentes. Os resultados mostraram que os rios ao redor de Manaus abrigam de quatro a sete vezes mais andorinhas por dia do que áreas monitoradas nos Estados Unidos, apesar da diferença significativa na extensão territorial.
A bióloga Maria Belotti, autora principal do estudo, enfatizou a importância das unidades de conservação na região para proteger essas aves migratórias e suas implicações para ecossistemas distantes. A pesquisa sugere que os impactos sobre as andorinhas na Amazônia podem afetar cadeias alimentares ao longo das Américas. A equipe também vê potencial na metodologia para prever movimentos de aves e orientar políticas de conservação, além de reduzir colisões em aeroportos e otimizar operações de parques eólicos.