O documentário 'Apocalipse nos Trópicos', dirigido por Petra Costa, oferece uma análise crítica da instrumentalização da religião como ferramenta de poder no Brasil contemporâneo. A produção, que não se atém a questões ideológicas, investiga o fenômeno neopentecostal e a ressignificação de narrativas religiosas, especialmente a apocalíptica, em projetos políticos. O filme destaca como a fé, ao longo da história, tem sido utilizada como tecnologia de controle social e identidade política.
A obra traça paralelos históricos, desde a resistência religiosa do povo hebreu até a expansão do Islã, mostrando como a religião pode moldar identidades e projetos nacionais. Costa argumenta que a narrativa de um 'cristianismo ameaçado' por movimentos evangélicos brasileiros se assemelha a padrões históricos de instrumentalização da fé para fins políticos, ecoando práticas do passado, como as cruzadas morais da Grécia antiga e a Inquisição medieval.
Além disso, 'Apocalipse nos Trópicos' revela a dualidade do neopentecostalismo brasileiro, que combina um discurso escatológico voltado para as massas com uma atuação pragmática nos corredores do poder. O documentário também destaca a criação de megairgrejas que se tornaram impérios midiáticos e financeiros, refletindo uma tensão histórica entre ascetismo e acumulação de riquezas. Com isso, a produção oferece uma chave hermenêutica para entender a recorrência de padrões de poder religioso ao longo da civilização ocidental.