A escritora mexicana Cristina Rivera Garza, vencedora do prêmio Pulitzer por 'O Invencível Verão de Liliana', abordou a crise na fronteira entre Estados Unidos e México durante uma mesa redonda na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip 2025), realizada neste sábado, 2 de setembro. A autora, que nasceu em Heroica Matamoros e atualmente reside em Houston, destacou que a situação é 'tão horrível quanto parece', em resposta a questionamentos sobre o tema.
Rivera Garza atribui o conflito na fronteira e as políticas de imigração americanas a um 'capitalismo de ódio'. Ela observou que, ao longo de quase uma década em Houston, as celebrações mexicanas na cidade diminuíram devido ao medo da repressão. Para a escritora, o ativismo se manifesta em seu trabalho acadêmico, onde oferece cursos de escrita criativa na Universidade de Houston.
Durante a mesa, que contou com a participação da escritora argentina María Negroni, ambas discutiram a criação literária a partir da memória e da pesquisa. Negroni apresentou seu livro 'O Coração do Dano', uma autoficção sobre sua relação com a mãe, enquanto Rivera Garza falou sobre 'Autobiografia do Algodão', publicado recentemente, que resgata a história de seus avós. Ambas as autoras refletiram sobre o papel da literatura na articulação de experiências pessoais e coletivas.
A conversa, mediada por Guilherme Freitas, enfrentou desafios de tradução, mas permitiu que as autoras compartilhassem suas visões sobre a escrita e a memória. Rivera Garza enfatizou a importância das mobilizações feministas na América Latina para a construção da linguagem em sua obra, enquanto Negroni fez referência à influência de Clarice Lispector em seu trabalho, ressaltando a complexidade da relação entre memória e narrativa.