O segundo turno das eleições na Bolívia será disputado exclusivamente por candidatos de direita, um fenômeno inédito no país em mais de 20 anos. Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão, e Jorge “Tuto” Quiroga, da Alianza Libre, conquistaram 32,1% e 26,8% dos votos no primeiro turno realizado no último domingo (17). Em entrevista ao Conexão BdF, o historiador e cientista político Juliano Medeiros analisa que esse cenário é resultado de um longo ciclo de dificuldades políticas que culminou na ascensão da direita.
Medeiros destaca que a trajetória política da Bolívia desde a eleição de Evo Morales em 2019 passou por crises sucessivas, incluindo a presidência de Jeanine Áñez e a eleição do atual presidente Luis Arce. Ele observa que a crise interna da esquerda boliviana se intensificou, levando à situação atual em que candidatos de direita dominam o cenário eleitoral. A participação do eleitorado foi alta, com 88% dos votos, mas também houve um aumento significativo no número de votos nulos e brancos.
Com a vitória iminente da direita, Medeiros alerta para uma possível “onda da extrema direita” na América do Sul, o que representa um desafio para os governos progressistas da região. Ele menciona que atualmente apenas quatro países mantêm governos progressistas: Colômbia, Brasil, Uruguai e Chile, o que é insuficiente diante das dificuldades políticas enfrentadas por esses países. O cenário se mostra preocupante para o futuro da esquerda na Bolívia e na América do Sul como um todo.