Uma carta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao governo brasileiro, que detalha tarifas ameaçadas, foi a única comunicação endereçada a parceiros comerciais que explicitou motivações políticas, conforme aponta o Indicador de Comércio Exterior (Icomex) de julho, divulgado pela FGV/Ibre nesta segunda-feira (14). Especialistas alertam que isso limita a margem de negociação do Brasil, uma vez que as justificativas apresentadas por Trump envolvem questões que são de competência exclusiva do Estado brasileiro.
O documento destaca que a balança comercial entre Brasil e Estados Unidos é deficitária desde 2009, com um saldo de US$ 1,7 bilhão favorável aos americanos no primeiro semestre de 2025. Apesar do crescimento das exportações brasileiras para os EUA, a participação deste país no comércio exterior do Brasil caiu de 24,4% em 2001 para 12% em 2024, refletindo uma perda de importância em relação a outros parceiros comerciais, especialmente a China.
O relatório da FGV/Ibre também menciona que setores como agropecuário e siderúrgico, especialmente em São Paulo, estão preocupados com a possibilidade de uma tarifa de 50%, que poderia inviabilizar exportações. Embora as negociações ainda sejam esperadas, a análise sugere que Trump pode recuar, como tem ocorrido em situações anteriores. O impacto das tarifas sobre as exportações brasileiras é um ponto central do debate atual, considerando que as vendas para os EUA são diversificadas em comparação com as exportações para a China, que são dominadas por poucos produtos.
Além disso, o superávit da balança comercial brasileira entre janeiro e junho de 2025 foi de US$ 30,1 bilhões, abaixo dos US$ 41,6 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior. A situação exige atenção, pois as exportações dos EUA representam apenas 2% do PIB brasileiro, e empresas multinacionais que operam no Brasil podem influenciar a posição do governo Trump em relação às tarifas.