Em março de 2024, a região do Xingu, no Pará, enfrenta uma crise agrícola sem precedentes, resultado das mudanças climáticas que alteram o calendário de cultivo do cacau. Produtores locais, que tradicionalmente dependem de um ciclo chuvoso de 7,2 meses, agora lidam com secas prolongadas e temperaturas extremas, levando à declaração de situação crítica de escassez hídrica pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
A seca, que se estendeu além do habitual, tem isolado comunidades e impactado diretamente a produção de cacau, um produto de alta qualidade reconhecido internacionalmente. Robson Brogni, da Ascurra, destaca que as alterações climáticas afetam não apenas a planta, mas também a economia local, com o cacaueiro sentindo imediatamente as mudanças nas condições climáticas.
Estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam que até 2050, as áreas adequadas para o cultivo de cacau na Amazônia podem ser reduzidas em até 73%. Essa nova realidade obriga os agricultores a adaptarem suas práticas de cultivo, alterando o ciclo de colheita que antes se estendia até agosto, agora previsto para março a agosto.
A pressão sobre os produtores é intensa, especialmente porque a região do Xingu representa 75,86% da produção de cacau do Pará, que, por sua vez, é responsável por mais da metade da produção nacional. Com uma produtividade média de 946 kg por hectare em 2024, os desafios climáticos colocam em risco não apenas a produção agrícola, mas também a sustentabilidade econômica das comunidades locais.