O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, classificou como "totalmente descabida" a ameaça de sanções da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ao Brasil, em entrevista ao Estúdio I da GloboNews nesta quinta-feira (17). A declaração do secretário-geral da Otan, Mark Rutte, que mencionou o Brasil, China e Índia como possíveis alvos de sanções secundárias por manterem relações comerciais com a Rússia, foi rebatida pelo chanceler brasileiro, que destacou que o país não faz parte da aliança militar.
Vieira enfatizou que o Brasil não pretende dialogar com a Otan, afirmando que a organização tem caráter militar e não comercial. Ele ironizou a declaração de Rutte, sugerindo que o secretário-geral pode estar mal-informado sobre a natureza da Otan, que não possui autoridade sobre questões comerciais. O chanceler também lembrou que países membros da Otan, que comerciam com a Rússia, não estão sendo sancionados, o que reforça a incoerência da ameaça.
A posição tradicional do Brasil, segundo diplomatas, é de aderir apenas a sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o que não se aplica às sanções da Otan. A declaração de Rutte ocorre em um contexto de tensão comercial, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciando tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto, alegando uma balança comercial desfavorável, o que é contestado por dados oficiais.
Questionado sobre uma possível influência dos Estados Unidos na declaração da Otan, Vieira reiterou que a ameaça não corresponde a uma questão comercial e deve ter sido uma iniciativa isolada do secretário-geral. Diplomatas têm comentado, de forma reservada, sobre a peculiaridade da situação, incluindo a referência de Rutte a Trump como "papai".