Na São Paulo e no Rio de Janeiro da década de 1920, os bondes elétricos simbolizavam o progresso urbano, mas poucos conheciam a figura crucial que garantia sua operação: o lubrificador de trilhos. Com um tanque metálico e uma mangueira, esses trabalhadores anônimos percorriam as ruas antes do amanhecer, limpando e aplicando óleo nos trilhos, evitando solavancos e descarrilamentos. Apesar de sua importância, esses profissionais raramente são mencionados em registros históricos ou estudos acadêmicos, conforme aponta o professor Paulo Terra, da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O apagamento da figura do lubrificador de trilhos reflete uma tradição historiográfica que prioriza os empresários e trabalhadores mais visíveis, como condutores e mecânicos. Segundo Terra, a função desses trabalhadores ia além da lubrificação; eles eram responsáveis pela limpeza dos trilhos, essencial para a circulação dos bondes. No entanto, não há registros de sua atuação em documentos sindicais ou jornais operários da época, mesmo em um período de crescente organização do movimento trabalhista no Brasil.
A trajetória do lubrificador de trilhos ilustra a transição do Brasil, da tração animal para o transporte elétrico, em um contexto de modernização e precarização do trabalho. Com a falta de direitos trabalhistas, esses profissionais enfrentavam demissões sem compensação e rigorosa fiscalização. O desaparecimento dos bondes e a ascensão de novas tecnologias, como a automação, levantam questões sobre o futuro do trabalho, ecoando a incerteza vivida pelos lubrificadores de trilhos em sua época.
O último bonde circulou oficialmente em São Paulo em 1968, levando consigo não apenas os trilhos, mas também a memória desses trabalhadores. Hoje, fragmentos dessa infraestrutura reaparecem em obras urbanas, mas a história do lubrificador de trilhos permanece como um capítulo esquecido na narrativa do trabalho urbano brasileiro.