Um leilão realizado em abril resultou na venda de 32 áreas no município de Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro, incluindo terrenos em 63 ilhas e uma parte do Parque Nacional da Serra da Bocaina. A situação, revelada por uma reportagem do programa Fantástico, gerou preocupação entre os moradores da região, que se sentem ameaçados pela possibilidade de novos empreendimentos em suas terras. Gilcimar Corrêa, presidente da Associação de Moradores do Mamanguá, expressou que o estado emocional da população está 'completamente abalado', com muitos relatando dificuldades para dormir e um constante receio de mudanças na comunidade.
As áreas leiloadas pertenciam ao comerciante português José Maria Rollas, que as adquiriu em 1936 com a intenção de preservá-las como 'bem de família'. No entanto, os novos proprietários, atraídos por anúncios que destacavam a beleza natural das terras, não foram informados sobre a presença de comunidades tradicionais que habitam a região há gerações. Moradores como Eder Costa, da Ilha do Araújo, criticam a situação, afirmando que a venda representa uma ameaça à população local, composta por pescadores e trabalhadores do turismo de base.
A advogada Thatiana Lourival, do Fórum de Comunidades Tradicionais, questiona se os compradores estavam cientes das implicações legais e sociais da aquisição, uma vez que a maioria das terras está inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) Cairuçu, criada para proteger a cultura caiçara e o meio ambiente. A incerteza sobre o futuro das áreas leiloadas, que incluem uma escola pública e duas igrejas, é acentuada por descrições imprecisas nas certidões de propriedade, que dificultam a identificação dos limites e direitos sobre as terras. A situação continua a gerar angústia e incerteza entre os moradores, que temem pela preservação de seu modo de vida.