Brasília (DF), 10 de julho de 2025 – A trajetória de Marcos Cabral de Oliveira, de 50 anos, revela os desafios enfrentados por crianças em situação de vulnerabilidade no Brasil. Natural de Caetité, na Bahia, Marcos viveu a fome e o abandono, mudando-se para Brasília na década de 1980. Trabalhando no lixão da Vila Estrutural, ele sonhou em proporcionar uma vida melhor para seus filhos, que hoje têm acesso à educação e oportunidades. "Quem trabalhou no lixão não quer isso para quem ama", afirma Marcos, refletindo sobre sua experiência dolorosa.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), instituído em 1990, é uma conquista que visa garantir os direitos da infância no Brasil. A legislação, que surgiu sob a influência da Constituição de 1988, ainda enfrenta desafios para se tornar uma realidade prática. Marcelo, filho de Marcos, é um exemplo de sucesso: após frequentar o Instituto Viver, uma ONG que oferece apoio a crianças em vulnerabilidade, ele se tornou lojista e chegou a iniciar um curso superior. "Aqui eu brincava e aprendi a jogar bola", recorda Marcelo sobre sua experiência na instituição.
O Instituto Viver, fundado pela Igreja Presbiteriana e hoje uma ONG, tem como objetivo acolher crianças em contraturno escolar, oferecendo refeições e apoio pedagógico. A assistente social Maxilene Duarte destaca a importância do espaço para evitar que crianças acompanhem suas famílias ao lixão. A psicóloga Fabiane Ferreira complementa que o trabalho da entidade fortalece vínculos familiares e ajuda os pais a compreenderem a importância da educação para seus filhos.
A pesquisadora Ana Potyara, da Andi Comunicação e Direitos, ressalta que o ECA foi fruto de uma pressão popular que reconheceu crianças e adolescentes como sujeitos de direitos. "As crianças devem ser tratadas como protagonistas e cuidadas", afirma Potyara, enfatizando a importância de manter o debate sobre os direitos da infância no Brasil.