Um estudo realizado pelo Instituto de Biociências da USP em parceria com a Universidade Ahmadu Bello, na Nigéria, alerta para os riscos que analgésicos como diclofenaco, ibuprofeno e paracetamol representam para o fitoplâncton, base da cadeia alimentar aquática. A pesquisa, que analisou o impacto combinado dessas substâncias, revelou uma diminuição significativa na biodiversidade das comunidades fitoplanctônicas, afetadas por estresse induzido por medicamentos.
Os resultados indicam que mesmo em baixas concentrações, esses fármacos alteram a fisiologia e a dinâmica populacional do fitoplâncton, levando a um aumento do risco de extinção local em espécies menos adaptáveis, como as algas do gênero Actinastrum. O professor Mathias Ahii Chia, um dos autores do estudo, enfatiza a importância do fitoplâncton para a vida na Terra, já que esses organismos são responsáveis pela produção de metade do oxigênio do planeta e pela absorção de carbono da atmosfera.
A pesquisa também destaca como os analgésicos chegam aos corpos d'água, principalmente através da urina e fezes de pessoas que os consomem, e a ineficiência dos sistemas de tratamento de esgoto em eliminar esses compostos. A pesquisadora Ramatu Idris Sha’aba, primeira autora do artigo, explica que a escolha dos medicamentos estudados se deve ao seu uso extensivo e à sua resistência à biodegradação, o que contribui para a sua persistência em ambientes aquáticos.
Os cientistas conduziram os experimentos em mesocosmos, simulando condições naturais em Zaria, no norte da Nigéria. Os resultados evidenciam a necessidade de investigar o efeito combinado de múltiplos fármacos, uma vez que a maioria das pesquisas se concentra em um único medicamento, o que não reflete a realidade dos ecossistemas aquáticos.