Um estudo recente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelou que quase 90% das áreas habitáveis do boto-cinza (Sotalia guianensis) no litoral fluminense estão sobrepostas a regiões com intensa atividade humana. Publicada na revista Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems, a pesquisa destaca a vulnerabilidade da espécie, que é símbolo do estado e figura no brasão da cidade do Rio, especialmente no complexo estuarino de Sepetiba e Ilha Grande.
Os pesquisadores mapearam que a maior parte do espaço adequado para os botos coincide com áreas de forte pressão humana, incluindo portos, zonas de pesca e turismo náutico. Apenas 25% da área analisada apresenta características ideais para a espécie, que prefere águas rasas e menos salinas. Entre os riscos imediatos, estão as capturas acidentais em redes de pesca e os danos provocados pela infraestrutura portuária, que incluem dragagens e poluição.
Além das pressões humanas, as mudanças climáticas também representam uma ameaça significativa, afetando a disponibilidade de presas como sardinhas e corvinas, essenciais para a dieta dos botos. Os especialistas alertam que a conservação da espécie depende de ações urgentes, como a redução da velocidade de embarcações e o fortalecimento das Áreas Marinhas Protegidas.
A integração das comunidades locais, especialmente pescadores artesanais, é fundamental para o sucesso das medidas de conservação. Os pesquisadores enfatizam que a proteção do boto-cinza requer um esforço conjunto entre cientistas, gestores e a sociedade, promovendo um diálogo contínuo para a construção de soluções sustentáveis.