Uma pesquisa realizada pelo Observatório Ibira 30 em parceria com a Universidade Federal do ABC revelou que, entre 2014 e 2023, o distrito de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, recebeu mais verbas da Lei Rouanet do que toda a metade periférica da cidade. Com captação de R$ 1,2 bilhão, Pinheiros concentrou cerca de 17,7% do total arrecadado, enquanto os bairros periféricos somaram apenas 1,38%, totalizando R$ 83 milhões, apesar de abrigarem mais de 50% da população.
O estudo classificou os distritos da capital paulista em quatro áreas com base na vulnerabilidade social. Todos os dez bairros com maior captação de recursos estão na “Área 1”, de alta renda, que absorveu 89% dos recursos da Lei Rouanet. Em contrapartida, a “Área 3”, que inclui regiões como Capão Redondo e Jardim Ângela, recebeu uma quantia irrisória. Em alguns distritos periféricos, como Cidade Tiradentes, a média de captação por habitante foi inferior a R$ 100, e 45 distritos não registraram nenhuma captação.
De acordo com a pesquisa, o modelo atual da Lei Rouanet, que depende da captação direta com empresas, favorece áreas com infraestrutura e capital cultural já estabelecidos, acentuando desigualdades sociais. A conclusão do estudo aponta para uma geografia da exclusão cultural, onde o acesso aos incentivos permanece distante da maioria da população da cidade.