A demanda por avaliações de autismo na rede municipal de saúde do Rio de Janeiro aumentou quase três vezes em 2023, com 13.803 solicitações, em comparação a 4.809 no ano anterior. Apesar do crescimento, um levantamento inédito revela que apenas 33,7% das 1.679 crianças e adolescentes que completaram o protocolo de avaliação entre janeiro e maio de 2024 receberam o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis (Capsi) têm recebido um número crescente de famílias com suspeitas de autismo, como o caso de Andrea Cardoso Fernandes, que levou sua filha, Isabela, para avaliação. Após múltiplos atendimentos, os profissionais concluíram que a menina não apresentava autismo, mas sim outras questões de desenvolvimento. A assessora técnica em saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde, Alice Peçanha Oliveira, destaca que a avaliação requer pelo menos cinco encontros com especialistas e que muitos casos são influenciados por contextos familiares e escolares.
A superintendente de saúde mental, Hugo Fagundes, observa que a identificação de discrepâncias no desenvolvimento infantil frequentemente leva a diagnósticos precipitados, muitas vezes baseados em percepções sociais. Em resposta ao aumento das suspeitas, a Secretaria Municipal de Saúde planeja um evento para discutir o desenvolvimento infantil e os fatores sociais e educacionais que podem estar por trás do crescimento nos diagnósticos. A professora da Unicamp, Maria Aparecida Affonso Moysés, alerta que a rotulação de crianças como portadoras de transtornos pode ser prejudicial, tanto para elas quanto para aquelas que realmente necessitam de atenção especializada.