Em audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) na manhã desta segunda-feira, 14, o analista de inteligência Clebson Ferreira de Paula Vieira declarou que a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro solicitou a análise de dados relacionados ao desempenho do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em áreas com forte presença do Comando Vermelho no Rio de Janeiro. Vieira, que atuou na Coordenação-Geral de Inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública durante o governo Bolsonaro, depôs como testemunha de acusação em um processo que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado.
O depoimento de Vieira faz parte do julgamento de um grupo de seis réus acusados de elaborar a chamada "minuta do golpe" e de monitorar o ministro Alexandre de Moraes, além de articular ações com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) para dificultar o voto de eleitores do PT no Nordeste durante as eleições de 2022. O analista mencionou que, em conversas com sua esposa, relatou ter recebido demandas com viés político-cognitivo, incluindo a solicitação de uma análise estatística sobre a concentração de votos em áreas dominadas por facções criminosas.
Vieira negou que tais demandas tenham partido de sua superiora, Marília Ferreira de Alencar, mas admitiu ter recebido outras solicitações relacionadas ao efetivo da PRF e à análise das eleições. Ele expressou sua preocupação com a falta de imparcialidade nas atividades de inteligência, ressaltando que a ética deve prevalecer nesse tipo de trabalho. O analista também reafirmou declarações anteriores sobre a distribuição de agentes da PRF em redutos eleitorais do PT, que foram alvo de operações questionadas por Moraes, então presidente do TSE.
As audiências dos núcleos 2, 3 e 4 do processo foram marcadas por repetição de perguntas, resultando em advertências do juiz. O depoimento de Vieira é crucial para elucidar as ações da PRF e o contexto político das eleições de 2022, em meio a alegações de manipulação e uso indevido de dados para fins eleitorais.