O presidencialismo brasileiro, caracterizado pela falta de uma maioria no Congresso, tem enfrentado desafios significativos desde a década de 1990, conforme analisa o politólogo Sérgio Abranches. O modelo, conhecido como 'Presidencialismo de Coalizão', exige que o presidente forme alianças com diversos partidos, especialmente com o chamado 'centrão', para garantir a governabilidade. Essa dinâmica levou à transformação das emendas parlamentares em ferramentas de barganha, essenciais para a manutenção do apoio político.
Nos últimos anos, a fragmentação da Câmara e o fortalecimento do centrão aumentaram os custos de administração das coalizões, resultando em uma mudança de poder. O que antes era um governo que controlava as emendas se tornou um cenário onde o Congresso, especialmente o baixo-clero, passou a ter um papel dominante. Essa 'Revolução do Baixo-Clero' culminou em eventos significativos, como a eleição de Eduardo Cunha em 2015 e a reestruturação das emendas em 2020.
A aliança entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o centrão exemplifica essa nova realidade. Ao ceder o controle das emendas, Bolsonaro acreditou que conseguiria o apoio necessário para governar, mas essa estratégia resultou em um enfraquecimento do Executivo. O montante destinado a emendas cresceu drasticamente, especialmente durante seu governo, mas a perda do controle sobre esses recursos significou uma diminuição do poder de barganha do governo, permitindo que o Congresso impusesse condições cada vez mais severas.
A atual situação reflete não apenas a fragilidade do Executivo, mas também a necessidade de uma reflexão sobre as práticas políticas que contribuíram para essa dinâmica. A história recente mostra que, enquanto o governo se distraiu com críticas externas, o controle do Congresso se consolidou, alterando o equilíbrio de poder no Brasil.