O Supremo Tribunal Federal (STF) realiza nesta terça-feira, 24, duas acareações entre réus e testemunhas no processo que apura uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. As sessões, conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes, ocorrem em Brasília e não contarão com transmissão ao vivo nem presença da imprensa. Uma das audiências reúne o tenente-coronel Mauro Cid e o ex-ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, ambos considerados integrantes do núcleo central da trama investigada. A outra confronta as versões do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e do ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes. As acareações visam esclarecer divergências cruciais nos depoimentos, especialmente sobre reuniões ocorridas em novembro de 2022.
O encontro entre Cid e Braga Netto foi solicitado pela defesa do general, que contesta acusações feitas pelo ex-ajudante de ordens e delator no processo. Segundo Cid, uma reunião na casa de Braga Netto teria incluído discussões sobre o chamado plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa ações extremas contra autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o próprio Moraes. Já a acareação entre Torres e Freire Gomes busca esclarecer o grau de envolvimento do ex-ministro nos atos golpistas e a omissão ou resistência das Forças Armadas. Especialistas apontam que essas audiências podem ser determinantes para consolidar provas e definir a responsabilidade penal dos envolvidos, num processo que já se tornou um marco na jurisprudência sobre ataques à democracia.
As acareações realizadas hoje podem abrir caminho para novos desdobramentos na investigação, inclusive com a inclusão de outros militares e civis no rol de investigados. O caso tem ramificações políticas e institucionais profundas, pois envolve diretamente integrantes da alta cúpula do governo anterior e das Forças Armadas. Conforme fontes próximas ao STF, Moraes pretende encerrar a fase de instrução ainda neste semestre, o que pode acelerar o julgamento definitivo dos réus. O episódio se insere em um contexto mais amplo de tensão entre poderes e de tentativas recentes de desestabilização democrática no Brasil. A forma como o Supremo conduz o processo — com sigilo em momentos-chave — reflete o grau de sensibilidade e a necessidade de proteger instituições em tempos de polarização extrema.