O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu no domingo (23) uma nota condenando “com veemência” os ataques realizados por Israel e, mais recentemente, pelos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas. Segundo o Itamaraty, as ações violam a soberania do Irã, a Carta das Nações Unidas e as normas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O comunicado também alerta para o risco de contaminação radioativa e para as possíveis consequências ambientais e humanitárias. A repercussão política foi imediata: nesta segunda-feira (24), o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Filipe Barros (PL-PR), afirmou que a posição do governo brasileiro está “alinhada ao regime de Teerã”, intensificando o debate sobre a postura diplomática do Brasil no cenário internacional.
A crítica do deputado Barros reflete uma divisão interna sobre a política externa brasileira diante de crises no Oriente Médio. Ele argumentou que a destruição do programa nuclear iraniano é vista como necessária por grande parte da comunidade internacional, incluindo países da União Europeia e membros da Liga Árabe. Barros também destacou que, enquanto a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, apelava por diálogo, o Brasil adotava uma postura de condenação aos EUA e Israel. Para analistas, a nota do Itamaraty segue a linha de defesa do multilateralismo e do direito internacional, mas pode ser interpretada como um afastamento em relação aos aliados ocidentais. A diplomacia brasileira, que historicamente busca equilíbrio em conflitos externos, enfrenta agora o desafio de explicar sua posição sem comprometer relações estratégicas.
Especialistas em política internacional apontam que a reação do Itamaraty sinaliza uma tentativa do Brasil de afirmar sua autonomia diplomática em um cenário global polarizado. No entanto, a crítica interna sugere que essa abordagem pode gerar tensões no Congresso e influenciar negociações bilaterais, especialmente com os Estados Unidos. O episódio também levanta questões sobre o papel do Brasil como mediador em conflitos e sua relação com regimes considerados autoritários. A expectativa é que o governo brasileiro esclareça sua posição nos próximos dias, enquanto parlamentares pressionam por uma audiência pública com representantes do MRE. Em meio a um cenário geopolítico volátil, o país se vê diante do desafio de equilibrar princípios diplomáticos com interesses estratégicos cada vez mais complexos.