Em meio a crescentes expectativas de flexibilização monetária, autoridades do Federal Reserve indicaram nesta segunda-feira (23) que um corte de juros pode ocorrer já na próxima reunião do banco central dos Estados Unidos, marcada para o fim de julho. A vice-presidente de Supervisão do Fed, Michelle Bowman, afirmou que, caso a inflação permaneça sob controle, há espaço para reduzir as taxas. A declaração ecoa comentários feitos na sexta-feira pelo diretor Christopher Waller, que também sugeriu abertura para um ajuste na política monetária. No entanto, durante o evento Fed Listens, realizado em Washington com executivos de grandes empresas, a diretora Adriana Kugler adotou um tom mais reservado, limitando-se a reconhecer que há desafios significativos para a economia norte-americana, sem mencionar diretamente os juros. O contraste entre as falas revela nuances na visão interna do banco central sobre os próximos passos da política econômica.
A cautela de Kugler ocorre num momento em que o Fed tenta equilibrar o combate à inflação com os sinais de desaceleração do crescimento econômico. Embora a taxa de inflação tenha recuado em relação aos picos de 2022, ela ainda se mantém acima da meta de 2% ao ano estipulada pela autoridade monetária. Um corte de juros poderia estimular a atividade econômica, mas também carrega o risco de reacender pressões inflacionárias, especialmente em setores como habitação e consumo. Analistas ouvidos pelo Times apontam que o Fed está dividido entre diretores mais inclinados à manutenção da taxa atual e outros que veem espaço para afrouxamento, diante de indicadores mais benignos. “O Fed está tateando o momento certo para agir, sem comprometer a credibilidade de sua meta inflacionária”, avalia Sarah Johnson, economista-chefe da MacroView Research. A postura dos dirigentes reflete a complexidade de decisões em um cenário ainda volátil.
Caso o corte de juros se concretize em julho, será o primeiro movimento nesse sentido desde 2020, quando o Fed reduziu agressivamente as taxas para conter os impactos da pandemia. A medida poderá influenciar diretamente os mercados globais, fortalecendo moedas emergentes e estimulando fluxos de capital para fora dos EUA. Internamente, pode aliviar o custo de crédito para empresas e famílias, impulsionando o investimento e o consumo. No entanto, também reacende o debate sobre a autonomia do banco central diante de pressões políticas em ano eleitoral. A decisão, ainda incerta, servirá como termômetro da confiança do Fed na trajetória da inflação — e, por extensão, na resiliência da economia americana. O desfecho da reunião de julho será observado atentamente por investidores, formuladores de políticas e governos em todo o mundo.