Apesar de estar presente em mais de 86% dos municípios brasileiros e ter beneficiado mais de 70 milhões de pessoas desde sua criação em 2004, o programa Farmácia Popular ainda enfrenta um obstáculo significativo: a desinformação. Muitos brasileiros desconhecem que têm direito a medicamentos gratuitos, mesmo que não estejam vinculados à rede pública de saúde. O programa, que integra mais de 30 mil farmácias credenciadas em todo o país, oferece mais de 40 tipos de medicamentos essenciais, como os usados em tratamentos de hipertensão, diabetes, asma e outras doenças crônicas. A retirada é simples e exige apenas receita médica válida, CPF e documento com foto. Ainda assim, o alcance do programa segue aquém de seu potencial, levantando dúvidas sobre sua visibilidade e comunicação com a população.
Segundo Débora Melecchi, conselheira nacional de saúde, o Farmácia Popular foi idealizado para reforçar o princípio da universalização do SUS, permitindo que qualquer cidadão, independentemente da origem da prescrição médica, tenha acesso gratuito aos medicamentos. A iniciativa também contempla itens como fraldas geriátricas e absorventes para mulheres em situação de extrema vulnerabilidade, por meio do programa Dignidade Menstrual. No entanto, a falta de campanhas informativas e a burocracia percebida por alguns usuários dificultam a adesão plena. Especialistas em saúde pública alertam que, ao não utilizar esse recurso, milhões de brasileiros acabam arcando com custos evitáveis ou, pior, abandonando tratamentos essenciais. A subutilização do programa também compromete metas de saúde pública, como o controle de doenças crônicas não transmissíveis.
Para especialistas, o futuro do Farmácia Popular depende de estratégias mais eficazes de comunicação e fortalecimento da rede credenciada. A digitalização dos serviços e o envio de alertas sobre medicamentos de uso contínuo, como já anunciado pelo governo, podem aumentar a adesão e melhorar a continuidade dos tratamentos. Além disso, ampliar o debate sobre políticas públicas de acesso à saúde e reduzir desigualdades regionais são passos fundamentais para garantir o pleno funcionamento do programa. Em um país com enormes desafios sanitários e sociais, a Farmácia Popular representa não apenas uma política de distribuição de medicamentos, mas um instrumento de equidade em saúde que ainda precisa ser reconhecido por toda a população.