Uma inesperada reviravolta nas tensões entre Irã, Estados Unidos e Israel marcou os últimos dias, com o anúncio de um cessar-fogo vindo horas após ataques iranianos a instalações americanas no Oriente Médio. A surpresa foi intensificada por declarações públicas de Donald Trump e Benjamin Netanyahu, que voltaram a defender a troca de regime em Teerã. Em uma postagem recente em redes sociais, Trump escreveu “Make Iran Great Again” (MIGA), ecoando seu próprio slogan de campanha. O comentário foi interpretado como uma provocação direta ao governo iraniano, sugerindo que o atual regime não seria capaz de restaurar a grandeza nacional. A escalada retórica ocorre em um momento de fragilidade regional e amplia a incerteza sobre os próximos passos diplomáticos e militares na região.
A defesa aberta por uma mudança de regime não é inédita, mas adquire novos contornos diante da atual conjuntura. Os aiatolás chegaram ao poder em 1979, após uma revolução popular que derrubou a monarquia de Reza Pahlavi, marcada por corrupção e repressão. Desde então, o regime teocrático consolidou amplo controle sobre a mídia e a política interna. No entanto, canais como o Irã Internacional, sediado em Londres e transmitido via satélite, têm crescido em audiência entre iranianos, oferecendo acesso a conteúdos alternativos. No último fim de semana, Benjamin Netanyahu foi entrevistado nesse canal, falando em inglês e persa, e reiterou que o atual governo iraniano representa uma ameaça global. Especialistas alertam que esse tipo de pressão externa pode fortalecer o discurso nacionalista do regime, ao mesmo tempo em que amplia o clamor popular por reformas internas.
As implicações de longo prazo dessa ofensiva retórica ainda são incertas, mas apontam para uma intensificação das tensões geopolíticas no Oriente Médio. A aposta em uma mudança de regime por meios indiretos — como sanções, propaganda e apoio a dissidentes — pode levar a instabilidade prolongada e afetar o equilíbrio de poder na região. Analistas veem paralelos com intervenções passadas em países como Iraque e Líbia, cujos desfechos foram marcados por caos e reconstrução lenta. Enquanto isso, a juventude iraniana, cada vez mais conectada e crítica, pode se tornar um vetor decisivo de transformação interna. A questão que paira é se a pressão externa será capaz de promover mudanças legítimas ou se apenas aprofundará a polarização dentro do Irã.