Desde o início da pandemia, as devoluções no varejo online atingiram níveis alarmantes, especialmente no setor de moda, onde podem chegar a 50% em certas coleções. A prática conhecida como “bracketing” — comprar múltiplas versões de um mesmo item para provar em casa — se tornou comum, mas seu impacto ambiental é devastador. Cada devolução adiciona cerca de 30% de CO₂ ao frete original, e o descarte de peças não revendidas gera montanhas de resíduos têxteis em desertos como o Atacama, no Chile, ou em terrenos baldios nos EUA.
Além do dano ecológico, a logística reversa custará ao varejo norte-americano cerca de US$ 890 bilhões em 2024, pressionando as margens das empresas. Algumas marcas já reagiram, introduzindo taxas de devolução para reduzir o volume, mas especialistas alertam que isso pode diminuir as compras por impulso em até 30%. Enquanto o retorno gratuito permanecer como padrão, o ciclo de emissões e desperdício continuará, com peças incineradas ou abandonadas em aterros.
A solução pode passar por tecnologias como provadores virtuais em realidade aumentada ou incentivos para devoluções em lojas físicas, mas a mudança real depende de conscientização. O consumidor muitas vezes desconhece o rastro de poluição e desperdício por trás de cada clique inocente. Se a conveniência não for repensada, o custo ambiental — desde emissões de CO₂ até desertos de roupas — seguirá crescendo em silêncio, enquanto milhões ainda lutam por acesso a vestuário básico.