As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde o início de junho já deixaram 6.258 pessoas desalojadas e 1.016 desabrigadas, segundo atualização da Defesa Civil nesta segunda-feira (23). O número de vítimas fatais permanece em quatro, com uma pessoa ainda desaparecida e duas feridas. Até o momento, 132 municípios foram afetados, sendo que Jaguari é o único em estado de calamidade pública e outras 21 cidades decretaram situação de emergência. Em Porto Alegre, o lago Guaíba voltou a ultrapassar a cota de alerta e já alagou trechos da orla, reacendendo temores de uma nova tragédia. A situação, embora menos grave do que a enchente histórica de 2024, evidencia falhas estruturais e administrativas que há anos fragilizam o enfrentamento de desastres climáticos no Estado.
Especialistas apontam a lentidão nas obras de contenção e a precariedade dos sistemas de drenagem como fatores agravantes. Conforme dados do governo estadual, recursos para intervenções emergenciais e estruturais estão disponíveis, mas parte significativa permanece sem execução, gerando críticas da sociedade civil e de parlamentares. A deputada Laura Sito (PT-RS) afirmou que “o dinheiro está parado rendendo juros” e cobrou mais celeridade do governador Eduardo Leite e do prefeito Sebastião Melo. Para a urbanista Cláudia Zago, a cidade continua “dependente de soluções improvisadas”, como sacos de areia, mesmo um ano após a tragédia anterior. A repetição dos alagamentos, segundo ela, revela uma vulnerabilidade crônica da capital gaúcha frente às mudanças climáticas e à má gestão urbana.
A perspectiva para os próximos dias é de manutenção do nível elevado do Guaíba, com risco de novas inundações em áreas baixas da capital. Meteorologistas alertam para a possibilidade de mais chuvas intensas nas próximas semanas, o que pode agravar ainda mais a situação humanitária no Estado. A crise atual se insere em um padrão mais amplo de eventos extremos que vêm se intensificando no Sul do Brasil, pressionando governos a reverem suas políticas de prevenção e adaptação climática. Com mais de uma centena de municípios atingidos, o episódio reforça a urgência de investimentos em infraestrutura resiliente e planejamento urbano. A recorrência das enchentes deixa uma pergunta incômoda no ar: até quando Porto Alegre e o Rio Grande do Sul seguirão vulneráveis à força da água?