Em meio à crescente tensão no Oriente Médio, o governo brasileiro condenou os recentes ataques militares de Israel ao Irã, reforçando uma postura diplomática que privilegia o direito internacional e evita alinhamentos automáticos aos Estados Unidos. A nota oficial do Itamaraty, divulgada nesta semana, manifesta preocupação com a escalada do conflito, destacando a violação da soberania iraniana. O posicionamento, segundo especialistas, foi cuidadosamente calibrado para dialogar com potências como China, Rússia e, sobretudo, países europeus, com quem o Brasil mantém laços diplomáticos mais estreitos. A atitude reflete uma continuidade na política externa brasileira, marcada pela tentativa de manter equidistância em conflitos de alta complexidade geopolítica.
De acordo com Eduardo Mello, professor de Relações Internacionais da FGV, a posição do Brasil busca preservar sua coerência histórica e interlocução com atores relevantes no cenário global. “O Brasil já não tem capital político significativo com os atuais governos dos EUA e de Israel”, afirma. Além disso, por não ser um player determinante na região do Oriente Médio, o país atua dentro de seus limites, priorizando a defesa de princípios multilaterais. A postura brasileira encontra eco na Europa, onde, apesar das críticas ao Irã, há uma preocupação crescente com os impactos negativos da escalada militar, como o aumento dos preços da energia e a intensificação dos fluxos migratórios. Hussein Kalout, ex-secretário de Assuntos Estratégicos, reforça que o uso da força sem respaldo legal contraria o direito internacional, base essencial da diplomacia brasileira.
As implicações futuras desse posicionamento reforçam o papel do Brasil como um ator que privilegia a estabilidade e o diálogo multilateral em um mundo cada vez mais polarizado. Com a Europa enfrentando crises energéticas e humanitárias, e potências como China e Rússia desafiando a hegemonia ocidental, o Brasil tenta consolidar uma presença diplomática que evite antagonismos diretos e amplie sua margem de manobra global. A continuidade dessa estratégia poderá fortalecer a posição brasileira em fóruns internacionais como o G20 e a ONU, além de preservar sua imagem de mediador confiável. Em um cenário internacional volátil, a aposta brasileira por equilíbrio e legalidade pode ser um ativo estratégico raro.