A BNDESPar, braço de participações societárias do BNDES, anunciou nesta segunda-feira (10) que fará um novo ciclo de investimentos em ações de empresas, totalizando R$ 10 bilhões até o fim de 2024. O movimento marca o retorno do banco de fomento ao mercado de equity após quase uma década de afastamento. Os aportes ocorrerão tanto de forma direta quanto via fundos de investimento, com foco em companhias abertas. A decisão representa uma mudança estratégica relevante e ocorre em meio a um cenário de recuperação econômica e maior apetite por capital produtivo. O anúncio reacende o debate sobre o papel do Estado como investidor no setor privado, especialmente após experiências controversas do passado recente.
A estratégia lembra a política de “campeões nacionais” implementada durante os governos anteriores do PT, quando o BNDES investiu pesadamente em grandes empresas brasileiras com o objetivo de torná-las competitivas globalmente. Um dos casos mais emblemáticos foi o da JBS, que recebeu aportes bilionários e teve parte de seu capital adquirida pelo banco. Apesar das investigações conduzidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal na esteira da Operação Lava Jato, técnicos do BNDES foram isentados de responsabilidade por eventuais irregularidades. Ainda assim, os episódios geraram críticas sobre riscos, transparência e retorno dos investimentos públicos. Atualmente, o BNDES mantém 18,18% do capital da JBS, após reduzir sua participação de 20,8% entre abril e maio deste ano por meio de vendas que resultaram em lucro estimado entre R$ 5 e R$ 6 bilhões.
A retomada dos investimentos diretos levanta questões sobre os critérios de seleção das empresas beneficiadas e o equilíbrio entre retorno financeiro e interesse público. Analistas apontam que, em um contexto de transição energética e inovação tecnológica, a atuação do BNDES pode ser decisiva para impulsionar setores estratégicos. A expectativa é que o banco estabeleça métricas mais rígidas de governança e impacto socioambiental para evitar críticas anteriores. O movimento também sinaliza uma tentativa de reposicionar o papel do Estado como indutor de desenvolvimento econômico. Com os primeiros aportes previstos ainda para este semestre, o mercado acompanhará de perto os desdobramentos dessa nova fase da política de investimentos públicos no Brasil.