Por mais de cem anos, a Roda dos Expostos da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre foi um símbolo de anonimato e cuidado. Entre 1837 e 1940, mães deixavam bebês no cilindro giratório de madeira, embutido na parede, sem qualquer identificação. Do outro lado, irmãs de caridade recolhiam as crianças, em um ritual silencioso que evitava contato direto. A estrutura, hoje exposta no museu do hospital, é um dos destaques da mostra “Fragmentos de uma história de todos nós”, que recria cenários e exibe objetos históricos, como seringas de vidro, fórceps e um aplicador de vacina de madeira.
O museu preserva um acervo de mais de 35 mil itens, incluindo arte sacra, documentos e peças arqueológicas encontradas em escavações no local. Entre elas, estão frascos de remédio, escovas de dente e garrafas, vestígios da vida cotidiana do hospital. A exposição também aborda a história das boticas, precursoras das farmácias modernas, e recebe visitas mediadas para escolas e estudantes da área da saúde, além de oficinas temáticas.
Fundada em 1803, a Santa Casa de Porto Alegre é o hospital mais antigo do Rio Grande do Sul, criado por iniciativa de um religioso catarinense que buscava expandir a assistência aos necessitados. O local, elogiado por sua posição estratégica e arejada, tornou-se um marco na história da saúde na região. A Roda dos Expostos, agora parte do acervo, simboliza um capítulo de resiliência e cuidado que permanece vivo na memória da cidade.