Uma onda de levantes militares com apoio popular tem reconfigurado o cenário político e econômico do Sahel africano, especialmente em Burkina Faso, Níger e Mali. Esses países, antigas colônias francesas, iniciaram processos de transformação institucional para reduzir a dependência da França, incluindo a nacionalização de recursos naturais, a criação de bancos públicos e a adoção de novas parcerias internacionais, como com a Rússia. Em setembro de 2023, os três países fundaram a Aliança dos Estados do Sahel (AES), abandonando a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), vista como alinhada a interesses estrangeiros.
O Senegal, embora sem um levante militar, também passou por mudanças significativas com a eleição de um governo de esquerda em 2024, que anunciou a retirada das tropas francesas. Especialistas apontam que essas transformações refletem um amadurecimento político da região, que busca romper com estruturas neocoloniais mantidas desde as independências nas décadas de 1960. A substituição do franco CFA e a renegociação de acordos de exploração de recursos, como o urânio no Níger, são exemplos dessa busca por autonomia.
A região ainda enfrenta desafios como o terrorismo islâmico, agravado pela instabilidade pós-intervenções ocidentais, e críticas sobre a natureza dos novos governos, acusados de serem autoritários. No entanto, analistas destacam que esses regimes emergentes representam uma reação popular contra elites políticas excluidoras e uma tentativa de construir instituições mais representativas. O Sahel, rico em recursos naturais mas com uma população empobrecida, vive um momento de redefinição de seu lugar no mundo.