Crianças e adolescentes estão associando o trabalho formal a condições difíceis, como longas jornadas, baixos salários e falta de liberdade, enquanto influenciadores digitais vendem a ideia de sucesso rápido e fácil na internet. Essa percepção negativa da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) tem crescido nas redes sociais, onde memes e relatos reforçam a imagem de que empregos com carteira assinada são sinônimo de fracasso. Pesquisadores apontam que essa visão é alimentada por uma cultura histórica de desvalorização do trabalho no Brasil, combinada com a precarização das relações laborais e a ascensão de modelos alternativos, como o empreendedorismo digital.
No entanto, a promessa de enriquecimento rápido nas redes sociais esconde uma realidade dura: apenas uma minoria consegue transformar a internet em uma fonte estável de renda. Estudos mostram que a maioria dos pequenos criadores de conteúdo não alcança sucesso significativo, e muitos jovens que abandonam os estudos para investir no digital enfrentam frustração e instabilidade. A antropóloga Rosana Pinheiro-Machado alerta que a demonização da CLT pode levar a uma ilusão perigosa, especialmente entre populações vulneráveis, que acabam desistindo de oportunidades tradicionais sem garantias de retorno.
Especialistas destacam que a CLT foi fundamental para garantir direitos trabalhistas básicos, como jornada definida e proteção social, e que o caminho não deveria ser abandoná-la, mas melhorá-la. Enquanto alguns jovens encontram no empreendedorismo digital uma alternativa viável, a maioria dos trabalhadores autônomos ainda prefere a segurança do emprego formal. O desafio, portanto, é equilibrar as aspirações da nova geração com a necessidade de proteger conquistas históricas, evitando que a busca por liberdade profissional resulte em precarização e desigualdade.