A fusão entre BRF e Marfrig, anunciada na última quinta-feira (15), traz à tona o papel estratégico da Salic, empresa saudita de investimentos agropecuários, que tem participação em ambas as companhias e também na Minerva Foods, concorrente direta da Marfrig no mercado de carnes bovinas. Com a operação, a Salic verá sua participação diluída na BRF, caindo de 11% para cerca de 10% na nova empresa, enquanto na Minerva sua fatia também será reduzida devido a um aumento de capital aprovado em abril. A situação gera dúvidas sobre como a presença da investidora em dois dos maiores frigoríficos do Brasil será tratada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Apesar da complexidade, analistas não esperam obstáculos significativos no processo de fusão, já que o Cade já aprovou movimentos anteriores, como o aumento de capital da BRF que permitiu a entrada da Salic e a aquisição progressiva de ações da BRF pela Marfrig. A questão central agora é como a participação acionária da Salic será gerenciada, especialmente considerando sua influência em duas empresas concorrentes. Leonardo Alencar, da XP, destaca que a comunicação nos próximos dias será crucial, mas acredita que não haverá medidas drásticas por parte das autoridades.
O mercado aguarda os desdobramentos, enquanto a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) se abstém de comentar o caso, reforçando a neutralidade diante de questões específicas das empresas. A fusão, que consolida dois gigantes do setor, coloca a Salic em um papel-chave, mas ainda não está claro como a investidora saudita irá equilibrar seus interesses nos negócios brasileiros de proteína animal.