A inauguração de estabelecimentos como a Krispy Kreme, Carlos Bakery e We Coffee em São Paulo tem atraído multidões dispostas a enfrentar filas de até quatro horas. Essas lojas, muitas vezes associadas a marcas ou estilos de vida estrangeiros, vendem não apenas produtos, mas experiências “instagramáveis” e ritualizadas. Segundo a socióloga Camila Crumo, especialista em consumo, essa tendência reflete a transformação do ato de comer em um evento social, repleto de simbolismos e status, impulsionado pela busca por autenticidade e exclusividade.
A influência cultural e econômica dos Estados Unidos também é um fator central, já que produtos antes inacessíveis ganham valor percebido pela escassez e pelo apelo do “lifestyle americano”. As redes sociais intensificam esse fenômeno, criando um senso de urgência e disseminando imagens que incentivam a participação. A pesquisadora destaca que a dominação cultural norte-americana, especialmente através do cinema e das séries, reforça a ideia de um estilo de vida desejável, que muitos consumidores buscam replicar.
Embora o orgulho nacional tenha crescido nos últimos anos, com a valorização de produções brasileiras, crises econômicas e incertezas globais parecem estar revivendo a crença de que “o importado é melhor”. Analistas apontam que, enquanto alguns consumidores buscam status e exclusividade, outros são movidos pela nostalgia ou pela garantia de qualidade associada a marcas estrangeiras. O fenômeno das filas quilométricas, portanto, vai além do produto em si, revelando dinâmicas complexas de consumo e identidade cultural.