Um estudo publicado na revista The Lancet Infectious Diseases destacou que o Brasil trata apenas 0,36% dos casos graves de infecções por bactérias resistentes a antibióticos de última linha, uma das taxas mais baixas entre os países analisados. A pesquisa, conduzida pela Parceria Global de Pesquisa e Desenvolvimento de Antibióticos (GARDP), usou dados de 2019 e estimou que, dos 101 mil casos graves no país, apenas 363 pacientes receberam o tratamento adequado. As bactérias em questão, como Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa, são altamente resistentes e afetam principalmente pacientes em UTIs, causando infecções em órgãos vitais.
O problema vai além da falta de medicamentos: muitos pacientes não são diagnosticados a tempo devido à carência de laboratórios equipados, estrutura hospitalar inadequada e falhas nas políticas públicas. A resistência antimicrobiana (RAM) já foi responsável por 1,27 milhão de mortes no mundo em 2019, e, sem ações efetivas, o número pode chegar a 2 milhões anuais até 2050. O estudo alerta para um ciclo vicioso em que o uso incorreto de antibióticos fortalece as superbactérias, enquanto a falta de tratamento adequado aumenta mortes evitáveis e a disseminação dessas infecções.
Os pesquisadores sugerem a adoção de metas globais semelhantes às usadas no combate ao HIV, como a “cascata do cuidado”, para melhorar a identificação e o tratamento dos casos. Eles defendem maior coordenação entre governos, sistemas de saúde e indústrias farmacêuticas para garantir acesso a medicamentos, ampliar diagnósticos e investir em novos antibióticos. O estudo reforça a urgência de ações integradas para enfrentar uma das maiores ameaças à saúde global.