Pesquisa da Fiocruz, intitulada Nascer no Brasil 2, aponta que quase 70% das maternidades do país registraram pelo menos uma morte materna em 2020 e 2021, com apenas 54% contando com equipes completas de obstetras, anestesistas e enfermeiras obstétricas disponíveis 24 horas por dia. A falta de profissionais é mais crítica em hospitais de pequeno porte, onde apenas 25% das unidades com menos de mil partos anuais tinham equipes completas. Além disso, quase 40% das maternidades com óbitos não possuíam UTI materna e neonatal, um problema que atinge 61,7% dos hospitais menores. Apesar disso, a maioria das unidades tinha pelo menos 90% dos equipamentos e medicamentos recomendados pelo Ministério da Saúde.
O estudo também destacou a desigualdade racial nas taxas de mortalidade materna: em 2023, 65% das mortes foram de mulheres negras, embora elas representem 55% da população feminina. Especialistas apontam fatores como falta de acesso a serviços de saúde qualificados, desigualdade socioeconômica e demora no atendimento como causas da disparidade. A Rede Alyne, nova estratégia do SUS, busca reduzir essas iniquidades com expansão de serviços qualificados e aumento de repasses financeiros para estados e municípios.
Para reduzir as mortes, o governo federal incluiu o cálcio no pré-natal de rotina e avalia a adição do ácido acetilsalicílico (AAS) para controle da pressão arterial, principal causa de óbitos maternos. A pesquisa sugere que a abertura de maternidades pequenas sem estrutura adequada pode agravar o problema, defendendo a criação de polos regionais bem equipados e equipes de enfermeiras obstétricas qualificadas para identificar e encaminhar casos de risco.