A cidade de São Paulo enfrenta um cenário de contradições urbanas, onde o déficit habitacional convive com unidades vazias, a mobilidade sustentável é negligenciada em favor do automóvel, e intervenções públicas priorizam estética sobre soluções estruturais. A recente decisão de transformar áreas sob o Minhocão em estacionamentos ilustra essa dissonância, privilegiando veículos em detrimento de moradores em situação de rua e projetos de inclusão social. Enquanto isso, a administração municipal se inspira em modelos estrangeiros de forma superficial, importando ideias descontextualizadas que ignoram as necessidades locais.
O projeto sob o viaduto João Goulart exemplifica uma “maquiagem urbana”: intervenções que alteram a paisagem sem resolver desigualdades, deslocando problemas em vez de enfrentá-los. Especialistas criticam a falta de debate público e a rapidez na implementação, contrastando com a habitual lentidão administrativa. A iniciativa, que poderia ser uma oportunidade para habitação, cultura ou mobilidade ativa, reforça uma visão ultrapassada de desenvolvimento, em desacordo com metas globais de sustentabilidade como a Agenda 2030.
Uma cidade verdadeiramente inteligente e bela vai além de aparências, exigindo participação popular, inclusão e cuidado com o ambiente. O caso do Minhocão levanta questões sobre quem se beneficia das transformações urbanas e qual legado está sendo construído. Enquanto gestores públicos insistirem em soluções desconectadas da realidade paulistana, os espaços continuarão a servir a interesses limitados, falhando em criar uma metrópole mais justa e resiliente.