Uma cripta subterrânea do século XVII, descoberta sob o Ospedale Maggiore em Milão, guarda os restos mortais de cerca de 2,9 milhões de pacientes pobres que morreram entre 1637 e 1697. Selada por 300 anos devido ao mau cheiro, a cripta foi reaberta em 2010 por pesquisadores da Universidade de Milão, que utilizam análises de DNA, placas dentárias e tecidos preservados para reconstruir a vida desses trabalhadores urbanos esquecidos. Os ossos revelam condições de saúde precárias, com marcas de doenças como tuberculose, sífilis e desnutrição, além de evidências de cirurgias rudimentares.
As análises das placas dentárias mostram que a dieta dos pobres era baseada em grãos como trigo e cevada, com surpreendentes vestígios de batata, recém-introduzida das Américas. Outras plantas, como milho e tomate, eram raras ou usadas apenas como ornamentais. Além disso, exames toxicológicos detectaram substâncias como ópio, canabinoides e coca em tecidos preservados, sugerindo que algumas drogas já eram consumidas sem supervisão médica na época.
Os arquivos do hospital, com registros que remontam a 1451, combinados com estudos forenses, permitiram reconstruir rostos de pacientes e detalhar suas causas de morte. A pesquisa oferece uma visão única da vida dos vulneráveis no século XVII, destacando como a ciência moderna pode revelar histórias ocultas pela tradição. Segundo os pesquisadores, os corpos são uma representação mais honesta das condições de vida daquela população.