O coletivo Negros do Bixiga promoveu neste sábado (3) mais uma edição de seu passeio de afroturismo, que conecta participantes a locais e histórias essenciais para a cultura negra na região do Bixiga, em São Paulo. Com dez paradas e duração de cinco horas, o roteiro, criado em 2018, desafia a narrativa predominante que associa o bairro à imigração italiana, destacando instead sua herança afro-brasileira. O idealizador do projeto, Wellinton Souza, enfatiza que o termo “Bixiga” carrega um vínculo afetivo e de pertencimento, além de remeter ao Quilombo Saracura, cuja preservação ganhou urgência devido às obras da Linha 6 do metrô.
A iniciativa também revela o apagamento histórico de comunidades negras e indígenas em bairros centrais, como a Liberdade, conhecida pela cultura japonesa, mas que teve sua história negra marginalizada. Souza ressalta que, no Bixiga, essa invisibilidade é combatida por moradores, que preservam tradições como a escola de samba Vai-Vai e a Pastoral Afro da Paróquia Nossa Senhora Achiropita, a primeira do Brasil. O coletivo ainda documenta essas narrativas em um filme, ouvindo depoimentos de figuras como uma idosa de 83 anos e um musicista que recorda a ocupação antiga de cortiços na região.
No domingo (4), o grupo promoveu um debate com a escritora Maria Aline Soares sobre literatura e território como espaços de afirmação da memória negra. O evento, realizado na Livraria Simples, reforçou a importância de resgatar histórias não contadas nos livros oficiais. O trabalho do coletivo segue reunindo fragmentos dessas narrativas, mostrando um Bixiga plural e diverso, além das representações tradicionais.