Um cemitério de escravizados foi identificado no estacionamento da Pupileira, em Salvador, e as escavações começaram nesta quarta-feira (14), data que marca os 190 anos da Revolta dos Malês. A descoberta foi resultado de uma pesquisa de doutorado que cruzou mapas antigos e imagens de satélite para localizar o local, onde possivelmente foram enterrados mártires do maior levante de escravizados da Bahia. Além deles, o cemitério pode abrigar corpos de participantes de outras revoltas, como a dos Búzios e a Pernambucana, além de indígenas, ciganos e pessoas sem recursos para custear sepultamentos.
A pesquisa revelou que o cemitério funcionou por 150 anos, até 1844, sob administração da Câmara Municipal e depois da Santa Casa, com sepultamentos realizados em valas comuns, sem cerimônias ou ritos funerários. A descoberta foi comunicada às autoridades em 2024, mas só após intervenção do Ministério Público as escavações foram autorizadas. A pesquisadora responsável destacou que o local sofreu um “apagamento histórico”, desaparecendo tanto da paisagem quanto da memória da cidade.
O levantamento dos Malês, ocorrido em 1835, reuniu cerca de 600 africanos, em sua maioria muçulmanos, e terminou com a morte ou prisão dos rebeldes. A escavação no estacionamento busca resgatar essa história, começando com um ato religioso antes do início dos trabalhos. O número exato de corpos no local ainda é desconhecido, mas a iniciativa representa um passo importante para reconhecer e preservar a memória desses indivíduos.