A segurança alimentar e nutricional (SAN) ganhou destaque global diante do aumento da fome, que afetou 773 milhões de pessoas em 2023, segundo a ONU. No Brasil, a pandemia de Covid-19 agravou o cenário, elevando a insegurança alimentar para 55,2% dos domicílios em 2020, embora dados recentes do IBGE mostrem uma leve melhora em 2023, com 27,6% das famílias ainda enfrentando o problema. Nesse contexto, práticas como o autoconsumo e a transferência de alimentos entre famílias rurais e urbanas emergem como estratégias relevantes para garantir acesso a dietas saudáveis e reduzir custos.
Um estudo realizado pela Epagri e Unochapecó no Oeste de Santa Catarina revelou que 100% das 381 famílias rurais entrevistadas cultivam alimentos para autoconsumo, muitos repassando parte da produção para parentes nas cidades. Essa transferência, que inclui itens como carnes, laticínios, frutas e grãos, não só melhora a qualidade nutricional da dieta urbana, mas também gera economia significativa—equivalente a mais de um salário mínimo mensal, segundo estimativas dos agricultores. A prática transcende fatores econômicos, reforçando laços culturais e afetivos entre famílias multilocalizadas.
A pesquisa destaca que o autoconsumo, antes visto como atividade marginal, agora é reconhecido como pilar para autonomia alimentar, especialmente quando associado à produção artesanal e agroecológica. Os autores enfatizam a necessidade de políticas públicas que valorizem essas práticas, já que elas contribuem para a segurança alimentar e a soberania nutricional. Novos estudos estão em andamento para avaliar o impacto socioeconômico dessa transferência sob a perspectiva dos receptores urbanos, aprofundando a compreensão do fenômeno.