Um estudo publicado no Journal of Astronomical History and Heritage identificou a possível representação mais antiga da Via Láctea em um caixão egípcio de mais de 3 mil anos. A imagem, encontrada na parte externa do caixão de Nesitaudjatakhet, uma cantora do deus Amon-Rá, mostra a deusa Nut arqueada e coberta de estrelas, com uma faixa escura próxima que lembra a Grande Fenda da Via Láctea. A descoberta foi feita no esconderijo de múmias Bab el-Gasus, em Deir Elbari, e sugere uma conexão entre a mitologia egípcia e a observação astronômica.
O astrofísico Or Graur, da University of Portsmouth, liderou a pesquisa, que analisou 555 elementos em túmulos dos séculos XXI e XXII a.C. A representação de Nut, deusa do céu, engolindo o Sol ao anoitecer e dando à luz ao amanhecer, reforça a ideia de que os egípcios associaram sua mitologia a fenômenos celestes. Textos funerários mencionam a “Corredeira Ondulante”, termo que pode se referir à Via Láctea como um caminho percorrido pelo rei falecido em sua jornada para o renascimento.
A Grande Fenda, faixa escura da Via Láctea causada por nuvens de poeira interestelar, parece ter inspirado a iconografia egípcia. Presente também nos tetos astronômicos de tumbas de faraós como Seti I e Ramsés VI, a marca reforça a interpretação de que os egípcios já mapeavam o céu. A pesquisa destaca como a astronomia e a religião se entrelaçavam no Antigo Egito, oferecendo novas perspectivas sobre seu conhecimento do cosmos.